A sociedade atual, graças aos avanços científicos e tecnológicos que lhe permitem em muitas situações controlar fragilidades, doenças e dores, prolongando a vida e/ou ocultando situações de sofrimento iludiu-se com o poder controlar a morte e, por isso, não nos prepara para lidar com este assunto.
No entanto, as perdas e a morte, apesar de dolorosas, são realidades inerentes à condição humana e encontram-se associados não só à morte de entes queridos, mas a outros acontecimentos adversos da vida, e que para serem superadas implicam vivenciar um processo de luto, tais como:
O fim de uma relação;
Uma doença grave;
Perda de capacidades físicas e/ou psicológicas;
Envelhecimento;
Abdicação de ideais ou projetos a nível pessoal ou profissional;
A perda de emprego e alterações no estatuto social e/ou económico, que determinam a perda da nossa vida como a conhecíamos,
O insucesso escolar e acontecimentos traumáticos, entre outras.
O luto em si é um processo complexo, vivenciado de forma singular e diferente por cada pessoa e que depende de inúmeras variáveis (tais como: a relação existente, as circunstâncias da morte, antecedentes e contexto social, as consequências da mesma, …). Muitas vezes, o acumular de perdas consecutivas e a necessidade de seguir em frente, podem determinar o evitamento e a negação do sofrimento que estas perdas provocam adiando o processo de luto, o que normalmente acarreta consequências devastadoras a médio ou longo prazo (por exemplo, tornarmo-nos ainda mais vulneráveis perante outras perdas futuras).
Contudo, é ao entrar em contato com a dor que o ser humano tem a possibilidade de reconhecer os seus próprios limites e descobrir formas mais autênticas de existir. Poder refletir e vivenciar as perdas é também dar-se a oportunidade de enriquecer a própria vida por meio de todas as lições que essas experiências são capazes de fornecer, aprendendo com as adversidades.
As consultas de Apoio Psicológico no Luto e nas Perdas Emocionais, através da escuta ativa e especializada, pretendem assim proporcionar apoio a pessoas que experimentam situações de perda ou luto complicados, ajudando-as a expressar e a lidar com a dor e a angústia, a elaborar essa vivência e a encontrar recursos pessoais e sociais para lidar com a situação e prosseguir a sua vida ao seu ritmo (o que traz algum alívio e conforto).
Ainda sobre o luto…
De acordo com a Sociedade Portuguesa de Estudo e Intervenção no Luto (SPEIL), o luto é um processo de reação a uma perda com significado pessoal profundo, tendo como causas: a perda de ente querido (por morte, separação conjugal, emigração e encarceramento), a perda de fantasia de afeto (por interrupção de gravidez ou nascimento de filho deficiente), o dano por amor próprio (por mastectomia, amputação ou paraplegias), a desqualificação social (por desvalorização da imagem pública, desemprego e não reconhecimento de competências).
Um luto é considerado NORMAL, quando a pessoa experiência sentimentos de tristeza, enfado, culpa, ansiedade, solidão, fadiga, impotência, choque, emancipação, alívio entre outras, durante um tempo suficiente para si, que lhe permite (r)elaborar a perda, e nesse sentido percorrer as diferentes fases do luto até conseguir finalmente atribuir um sentido à perda e assimilar as memórias sem dor nem sofrimento.
Um luto PATOLÓGICO ou COMPLICADO, que poderá acarretar um elevado sofrimento e vários tipos de distúrbios, está muitas vezes ligado à personalidade de quem sofre o luto (e aos mecanismos psicológicos que usa para lidar com a situação), mas também a questões que envolvem o relacionamento com a pessoa perdida como, por exemplo: quem era a pessoa com quem se perdeu o contato, a natureza desta ligação, a forma com que essa morte ocorreu, a história de vida, entre outros. Neste caso, a pessoa persistirá no processo de luto por mais de um ano e apresenta vários sinais e sintomas, sendo fundamental a procura de ajuda profissional para ultrapassar a situação.
Alguns “fatores” podem predispor ao desenvolvimento de um luto patológico, tais como:
Mortes repentinas, violentas, inesperadas ou de pessoas jovens que podem provocar o chamado “transtorno do estresse pós-traumático” – o mesmo que pode ocorrer diante de assaltos ou exposição às situações agudas de estresse – que acarreta medo extremo, angústia e reclusão, além de pensamentos negativos que acabam por evitar situações sociais em que a pessoa poderia estar vulnerável ou exposta à mesma violência sofrida;
Ser crianças e/ou adolescente e o luto advir da quebra de um vínculo afetivo com valor de sobrevivência, originando desta forma uma intensa ansiedade de separação, que poderá vir a influenciar a maneira como o sujeito lida com os seus vínculos e perdas futuras, bem como a confiança que depositará em si, nos outros e no mundo.
